Em Soldom contarom-nos que naquela altura houvo quem pensou que César que podia ser da ETA. Finalmente decidiu ir para umha cabana em Roxe de Sebes, um lugar mais longe do longe, pola Devesa do Cervo, em Mazais, a duas horas de caminho montanha arriba e abaixo, arriba e abaixo e arriba.
“Berros de ledicia ó albisca-la cabana dende arriba: branco e azul cravados na beleza salvaxe desta serra.”, escreveu um dia aquel rapaz num livro.
Mario, que morreu o ano passado, em paz descanse, contou-nos que lhe subiu um trator com um remolque cheio de livros. Imaginais um trator a subir entre uzes e carqueixas, lentamente, umha biblioteca a mais de mil metros de altitude? Porque César o que queria era retirar-se a pensar.
César era Ignacio Castro, (1952) autor de “Roxe de Sebes”, um livro mítico da nossa literatura. Em Roxe de Sebes reúne as palavras que nascerom em mil dias na montanha, em vários anos de retiro. Diário, poesia, pensamento.
Por exemplo:
“No camiño das montañas. Rumor de augas secretas, canto de grilos, paxaros asubiantes.”
“O tremer da terra, o vento sobre a herba.”
“Un paxaro canta fronte á nube.”
Hoje um dos maiores incêndios da história está a queimar a Serra dos Cavalos. Conhecedes o conto “Os lobos” de Ánxel Fole. Pois esses lugares por onde baixarom os lobos e o capador de Rugando arderom nos últimos dous dias.
Daquela havia gente, fazenda, trabalho polos vales. Escreveu Ignacio Castro quando era César: “Ó outro lado do val, con feble música de chocas, a veceira de Xestoso percorre o perfil da serra.”
O incêndio chegou a Gestoso e ardeu todo agás a aldeia. Já calcinou o Montouto e baixou pola Serra dos Cavalos. E entrou em Mazais. Talvez esta noite entrou em Roxe de Sebes, talvez entre durante o dia de hoje. Talvez as árvores frondosas do regatoo protejam, a fazer de barreira natural, talvez nom.
“Xunto ó canto do torrente, no frescor deste olvido.”
A vizinhança comenta que seguramente arda, que possivelmente já ardeu.

Incendio 18 de agosto 2025 / Facebook Sechu Sende
Assim que este incêndio, ademais de queimar montes e devesas, casas e aldeias enteiras, levou o lume a Roxe de Sebes, lugar de lenda e poesia, de filosofia e silêncio.
Despois de que a nossa brigada de voluntárias estivesse a bater no lume ao pé da Devesa do Cervo, envio um whatsap a Antón Lopo, editor de Chan da Pólvora:
“Talvez esteja a arder Roxe de Sebes.”
E Antón comenta-me algo imespersdo, umha coincidência poética: que em setembro, numhas semanas, a editora vai reeditar o livro.
Pouco despois conta-me que Ignacio acaba de dizer-lhe que arredor de Roxe de Sebes sempre houvo muito mato…
Por favor, lede “Roxe de Sebes”. Também é umha forma de salvar a montanha do incêndio. Deste incêndio, dos que forom e dos que virám. Ainda que arda que nom queime a memória.
Porque nos seus anos na montanha, Ignacio Castro já contemplou a montanha a arder:
“O voo berrón dos corvos coroa o aire abatido da montaña arrasada polo lume.”
Agora esperamos por umha chuva que nom vai chegar a tempo. Mas quando lemos “Roxe de Sebes” nom podemos evitar imaginar que a neve do inverno hoje é a cinça do verao:
“Ó abri-la fiestra, un silencio branco.”
Quando venhades à Volta Grande do Courel, lembrade Roxe de Sebes. Agora em Soldom temos mangueiras e caldeiros e capachos e sulfatadoras cheias de água fora das casas. A vizinhança já foi luitar contra o lume ao Maço, ao Poço dos Holandeses, à ferreiria velha. Cheiramos a cinça. Levamos os bate-lumes connosco dumha aldeia a outra. E em Soldom da Seara estamos a esperar o incêndio que vem cara aqui, arrasando a Serra dos Cavalos, desde Roxe de Sebes.
